Entrevista: O automobilismo virtual e seus números no streaming
A BRL conversou com três pilotos praticantes da modalidade, que conquista cada vez mais espaço e visibilidade no mundo dos esportes eletrônicos.

Imagem da Gfinity Arena, usada para realizar eventos de esports (Foto: Gfinity PLC).
Com a constante revolução tecnológica que o mundo passa, um tipo de competição que cresce de forma incessante e que foi muito explorada durante a pandemia é o esporte eletrônico, também conhecido como esports. Apesar de existir desde o final do século XX, com atividades em jogos de tiro e arcades de luta, o esports ganha participação nos mais diversos gêneros com o passar dos anos. E um desses gêneros é o automobilismo virtual.
Por mais que competições oficiais sejam realizadas em diversos simuladores desde o final dos anos 2000, o automobilismo virtual começou a ganhar maior notoriedade no final de 2017, com a criação do campeonato mundial virtual da Fórmula 1, o F1 Esports Series. A primeira edição do mundial trouxe olhos para o esporte, com transmissões em diversas redes sociais e plataformas, como a Twitch, principal serviço de streaming utilizado para sediar transmissões de campeonatos de esports.
Sendo um gênero em ascensão com presença em serviços de streaming, a Brazilian Racing League entrevistou três pilotos de automobilismo virtual que atuam em diversos jogos e transmitem suas participações em eventos e jogatinas na Twitch. Estes são: João Pedro Piana Santos, Felipe Sousa e Eduardo Perondi. Todos compartilharam suas visões sobre o AV no streaming, suas experiências como streamers e o que esperam do meio para o futuro dentro das plataformas.
João Pedro Piana Santos tem muita bagagem e experiência no ramo do AV. Com 21 anos de idade e de Cascavel, interior do Paraná, compete desde 2014 e tem como maior feito ser um dos três brasileiros semifinalistas do F1 Esports Series, alcançando a semifinal do mundial três anos consecutivos (2019, 2020 e 2021). Apesar da alta experiência nas pistas virtuais, o cascavelense encara o streaming como “um mundo novo, que será muito bem desenvolvido no futuro”.
“Eu comecei a realizar lives na Twitch em agosto de 2020 e o crescimento das visualizações foi muito rápido, alcançando até no máximo 500 pessoas simultâneas. Uma das razões foi a alta demanda por conteúdos virtuais durante a pandemia, além da criação de campeonatos que envolveram influenciadores com alto alcance no meio dos jogos, o que ajudou não só a mim mas ao automobilismo virtual como um todo. É algo que ainda está no começo e tem potencial de trazer campeonatos organizados, com transmissões de alta qualidade.” - contou João.

João Pedro Piana Santos transmitindo o jogo F1 2021 (Foto: João Piana/Twitch).
Outro piloto com vasta experiência nas pistas, Eduardo Perondi pôde conhecer um pouco da força do streaming na modalidade. Com 20 anos idade e morador da cidade de Alegrete, interior do Rio Grande do Sul, o piloto possui o mesmo tempo de transmissões que João Piana, e compartilha das mesmas opiniões que o cascavelense sobre o crescimento da modalidade nas plataformas, além de enxergar “um longo desafio pela frente.”
“O crescimento do AV é grande mas falta muito para alcançar a visibilidade de outros jogos que estão em alta, como FPS e MOBAs. No Fórmula 1, muito do crescimento se dá pela atenção que a categoria deu ao esports, cedendo espaço em suas redes sociais e convidando pilotos reais para participarem de eventos online.” - relatou Eduardo.

Imagem de Eduardo Rodrigues Perondi, piloto da BRL Esports Team.
No ano de 2020, o F1 Esports Series alcançou o total de 11,4 milhões de visualizações ao vivo em todas as plataformas digitais durante a competição, o que é um aumento de 98% em relação ao ano anterior.

Números de aumento no engajamento das redes sociais da Fórmula 1 em comparação com outras ligas esportivas em 2019/2020 (Foto: MKTEsportivo).
Apesar de ser o mais novo do trio, Felipe Sousa é o piloto mais habituado com as transmissões online. Residente em Mauá, na Grande São Paulo, o piloto de 16 anos de idade contou que começou a realizar lives em meados de 2019, com o intuito de apenas gravar suas corridas. Após ver todo o potencial do streaming, começou a investir nas transmissões e cresceu sua audiência rapidamente, passando de 3 para 100 espectadores simultâneos em algumas delas.
“Eu atribuo meu crescimento na Twitch a 3 fatores: Desempenho, Qualidade e Carisma. Quando eu comecei a fazer lives com câmera e melhorei meu desempenho na pista, minha média de espectadores chegou a casa dos 50, pois todo mundo quer ver um bom piloto competindo de igual para igual com os melhores do mundo. A minha interação com o chat também ajudou a alavancar minha audiência, pois o espectador gosta de se sentir parte da transmissão” - disse Felipe.
Felipe também contou que já conseguiu ganhar dinheiro com as transmissões e vê as plataformas de streaming como um meio para estimular o esporte eletrônico e engajar a comunidade. “O AV tem um futuro gigante pela frente, vários eventos de esports estão sendo feitos em todos os jogos, as premiações aumentam a cada ano e temos também famosos transmitindo seus treinos ou até mesmo corridas de campeonatos virtuais, como a própria Bia Figueiredo, pilota da Stock Car. Já cheguei a arrecadar R$1000,00 com o streaming, o que para os meus números é algo bom”.

Felipe Sousa transmitindo o jogo F1 2021 (Foto: Felipe Sousa/Twitch).
Apesar da possível renda com o streaming e campeonatos, o automobilismo virtual ainda não é uma modalidade que dá muitas chances do jogador conseguir uma renda para pagar as próprias despesas, o que força os pilotos a buscarem outros caminhos profissionais em suas vidas. João cursa Engenharia Mecânica na UNIOESTE, Eduardo faz Engenharia Elétrica na UNIPAMPA, enquanto que Felipe cursa Mecatrônica na ETEC Júlio de Mesquita.
O automobilismo virtual é novo e constrói seu espaço dia por dia, principalmente na Twitch. Com a presença de celebridades em eventos, transmissões de campeonatos e a chance dos pilotos poderem transmitir as próprias perspectivas das competições, o palco está montado para o crescimento da modalidade, que é acessível e pode conquistar os olhos do mundo, com honestidade e profissionalismo.